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O futuro do RH: principais tendências dos recursos humanos em 2026

Athena Bastos

Athena Bastos


Se os últimos anos foram marcados pela reatividade — uma corrida constante para adaptar modelos híbridos e ajustar processos ao “novo normal” pós-pandemia —, 2026 sinaliza uma mudança de paradigma fundamental. Estamos deixando a fase de “adaptação ao caos” para entrar na era da arquitetura intencional do trabalho.

Neste novo ciclo, a vantagem competitiva não pertencerá às empresas que apenas adotam as tecnologias mais recentes, mas sim àquelas que tiverem a coragem de redesenhar como o trabalho é realizado. Não se trata mais de automatizar processos, mas de questionar a própria natureza das funções corporativas.

Neste cenário de grandes transformações, a própria definição da área precisa evoluir. Com isso, o setor assume um papel mais abrangente e estratégico: a gestão de potencial humano e tecnológico. Afinal, em um ecossistema corporativo cada vez mais híbrido entre humano e digital, gerir talentos significa coordenar a interação entre pessoas e máquinas.

Para trilhar com êxito essa transição, o RH precisa dominar uma nova tríade estratégica que servirá de alicerce para o futuro das organizações: a plena integração da IA operacional, a migração definitiva para uma cultura baseada em habilidades (skills-first) e a priorização inegociável da sustentabilidade humana.

Portanto, o objetivo deste artigo é elencar as principais tendências para RH 2026, com os principais insights que definirão o futuro do RH. Acompanhe!

Recursos Humanos: tendências para 2026

Para transformar a gestão de pessoas em um diferencial competitivo real, é preciso identificar onde investir a energia e os recursos da organização. Mapeamos as cinco forças transformadoras que deixarão de ser diferenciais para se tornarem requisitos de sobrevivência corporativa.

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Da revolução dos algoritmos à regeneração humana, confira a seguir, as principais tendências de recursos humanos para 2026.

1. A Consolidação do “RH Algorítmico” e a IA Agêntica

Até recentemente, a Inteligência Artificial no RH era sinônimo de suporte: chatbots que tiram dúvidas sobre benefícios ou geradores de texto para descrições de vagas.

Em 2026, porém, essa tecnologia dará um salto evolutivo. Deixaremos para trás a era da IA apenas generativa para abraçar a IA Agêntica. Diferente de uma ferramenta que apenas “cria” conteúdo sob comando, os agentes de IA terão autonomia para executar fluxos de trabalho complexos de ponta a ponta.

Imagine um sistema que não apenas escreve o e-mail de boas-vindas, mas que, sozinho, agenda as reuniões de integração, libera acessos aos sistemas, encomenda o equipamento do novo colaborador ou colaboradora e personaliza a trilha de onboarding com base no perfil comportamental da pessoa candidata. O “RH Algorítmico” deixa de ser ficção para se tornar o sistema operacional das equipes de alta performance.

Essa transformação já é sentida nas prioridades das lideranças globais. Segundo o estudo “Principais tendências de RH e prioridades de [CHRO](https://www.alura.com.br/empresas/artigos/chro) para 2026”, da Gartner, as prioridades das lideranças de RH para os próximos anos são:

  • aproveitar a IA para revolucionar o RH;
  • buscar formas de melhorar a interação do trabalho na era pessoas-máquina;
  • mobilizar líderes para o crescimento em um mundo incerto e abordar a cultura de “dar mais, esperar menos”.

O relatório destaca que a tecnologia é vista hoje como o principal motor para ganhar eficiência e reduzir o atrito operacional.

Diante dessa automação sofisticada, surge o medo inevitável da substituição. No entanto, a regra para 2026 é clara: a IA não vai tirar o emprego de profissionais de RH; mas as pessoas profissionais do setor que dominarem a IA vão se destacar diante daquelas que não a utilizam.

A tecnologia assume o “trabalho braçal”, como a triagem de currículos, o agendamento e a conformidade burocrática, liberando profissionais para o “trabalho humano”, como a negociação complexa, o aconselhamento de carreira, a mediação de conflitos e a construção de cultura.

A importância do letramento digital e em dados

No entanto, para esse cenário funcionar, a equipe de RH precisa deixar de ser apenas usuária passiva de tecnologia para se tornar fluente nela. Isso exige um investimento robusto em Data Literacy (Alfabetização de Dados) e IA Literacy, ou letramento em IA.

Não basta saber “onde clicar”; é preciso entender como os algoritmos tomam decisões para evitar vieses e garantir uma gestão ética. Com isso, é essencial capacitar times de RH para gerenciarem de forma analítica e dialogar com a tecnologia, interpretando dados e pilotando esses novos agentes digitais com segurança e estratégia.

Leia também: Ética e Inteligência Artificial — desenvolver a tecnologia com consciência

2. O fim dos cargos estáticos: a ascensão da “Skills-Based Organization”

Talvez a mudança mais marcante para os Recursos Humanos em 2026 seja a desconstrução do conceito tradicional de “cargo”. O velho job description, considerado uma listagem de responsabilidades atrelada a um título fixo no organograma, está se tornando um impeditivo à agilidade organizacional.

Em seu lugar, se consolida o modelo de Skills-Based Organization (Organização Baseada em Habilidades). Nele, o trabalho deixa de ser definido por “onde você se senta na hierarquia” e passa a ser definido pelos problemas que precisam ser resolvidos e pelas competências necessárias para solucioná-los.

As organizações estão evoluindo para estruturas que valorizam o desenvolvimento multidisciplinar. Em vez de restringir o potencial da pessoa colaboradora ao escopo estrito de uma única função, abre-se espaço para que ela possa explorar diferentes desafios com base no que deseja aprender e realizar.

Dessa forma, uma pessoa de marketing com habilidades em análise de dados, por exemplo, pode encontrar espaço para aplicar esse conhecimento em projetos de finanças, ampliando sua visão de negócio.

O resultado é um ambiente de mobilidade interna, onde as pessoas não ficam estagnadas, mas sim em constante evolução. Essa dinâmica fortalece, na prática, o conceito de Carreira em T, na qual o talento mantém sua especialidade técnica (a profundidade vertical), mas expande sua atuação horizontalmente ao adquirir novas competências, tornando-se muito mais versátil e estratégico para o futuro.

No entanto, é importante deixar claro que a tese não é o fim do trabalho, mas o fim da rigidez do emprego, uma vez que em um mundo de mudanças rápidas, contratar alguém para fazer a mesma lista de tarefas por cinco anos, por exemplo, é irrealista.

Para o RH de 2026, isso significa uma mudança radical no recrutamento e na promoção:

Essa transição coloca a aprendizagem no centro da estratégia de negócio. Se as habilidades são a nova moeda de troca, a capacidade da empresa de mapear gaps e oferecer trilhas rápidas de desenvolvimento torna-se o principal motor de competitividade e inovação.

Leia também: Qual a importância de uma equipe multidisciplinar nas empresas?

3. Liderança em crise e a ascensão da “gestão conectora”

Se há um elo sob tensão máxima na estrutura corporativa atual, é a média gestão. Pressionadas pelas metas agressivas da diretoria e pelas demandas emocionais e operacionais das equipes, as lideranças intermediárias vivem o fenômeno do “middle manager squeeze” (o esmagamento da média gestão), como abordado pela HRD Connect.

Para 2026, a tendência não é extinguir esse cargo, mas sim reinventá-lo. O modelo de gestão “controladora de tarefas” e “transmissora de recados” está claramente obsoleto. Em seu lugar, se destaca a gestão conectora: uma liderança menos focada em burocracia e planilhas (tarefas que a IA assumirá) e mais em coaching, desbloqueio de obstáculos e conexão humana.

A tecnologia, muitas vezes vista como vilã, será a maior aliada dessa liderança. Segundo o relatório “Work Trend Index 2025”, da Source LATAM, os dados revelam o surgimento de um novo tipo de organização: a Frontier Firm — construída em torno de uma IA disponível para seus times, equipes que trabalham com agentes e um novo papel para todas as pessoas: chefe de agentes.

Embora seja uma grande mudança, 71% das pessoas colaboradoras que responderam à pesquisa dizem que sua empresa está prosperando neste modelo. A virada para 2026 envolve usar a IA para automatizar o fluxo administrativo, devolvendo à gestão o ativo mais precioso: tempo.

Ainda segundo a pesquisa da Source LATAM, enquanto 53% das lideranças dizem que a produtividade deve aumentar, 80% da força de trabalho global relata falta de tempo ou energia para fazer seu trabalho. E, em média, as pessoas colaboradoras são interrompidas por uma reunião, e-mail ou chat a cada dois minutos.

No Brasil, os índices são: 40% das lideranças dizem que a produtividade deve aumentar, e 72% da força de trabalho relata falta de tempo ou energia. Para resolver essa lacuna de capacidade, 82% das lideranças esperam usar o trabalho digital para expandir sua força de trabalho nos próximos 12 a 18 meses. No Brasil, o porcentual é de 90%.

Por que essa mudança é urgente? Uma liderança exausta e burocrática gera uma equipe desengajada e propensa ao turnover. Já uma gestão conectora, com soft skills como inteligência emocional, escuta ativa e comunicação não-violenta, torna-se o principal fator de retenção de talentos.

Leia também: Sensegiving — o papel da liderança na construção de significado em tempos de mudança

4. Mobilidade interna: a estratégia-chave para a retenção

Durante décadas, a resposta padrão para uma nova vaga era abrir um processo seletivo externo. Em 2026, essa lógica se inverte. Em um mercado volátil e com escassez de profissionais com qualificação, olhar para fora antes de olhar para dentro passará a ser considerado um erro estratégico e financeiro.

O “mercado de talentos interno” consolida-se como a principal fonte de recrutamento. A lógica é simples: é muito mais barato, rápido e seguro treinar a pessoa colaboradora que já conhece a cultura, os processos e os valores da empresa para uma nova função, do que arcar com os altos custos de aquisição e o risco de fit cultural de uma contratação externa.

Essa correlação entre mobilidade interna e retenção não é somente uma aposta para o RH em 2026, mas é um indicativo baseado em dados. Segundo o LinkedIn Workplace Learning Report 2025, a principal motivação para 84% das pessoas colaboradoras permanecer em uma empresa é a oportunidade de aprender e crescer, uma vez que isso cria o senso de propósito.

Isso acontece porque a mobilidade interna responde à pergunta fundamental de profissionais da atualidade: “Eu tenho futuro aqui?”. Se a resposta for não, a pessoa buscará esse futuro em outra empresa. Se a resposta for sim e houver caminhos claros para transições de carreira, ela renova seu “contrato psicológico” com a organização.

5. Sustentabilidade humana: muito além do bem-estar corporativo

Durante a última década, o foco do RH esteve no wellness, ou bem-estar: oferecer aplicativos de meditação, passes de academia e salas de descompressão. Embora válidas, essas iniciativas atuam na consequência e não na causa. Em 2026, a virada de chave acontece com a adoção do conceito de sustentabilidade humana.

A diferença é estrutural: enquanto o wellness tenta “curar” o estresse gerado pelo trabalho, a sustentabilidade humana busca redesenhar os processos de trabalho para que eles não adoeçam as pessoas. É uma mudança de uma abordagem curativa para uma preventiva.

A Deloitte tem liderado essa conversa globalmente, com relatórios e artigos sobre Human Sustainability, definindo-o como uma filosofia na qual a organização cria valor para as pessoas como seres humanos.

Ela consiste, basicamente, em proporcionar aos indivíduos: maior saúde e bem-estar, habilidades mais sólidas, maior empregabilidade, oportunidades de ascensão, progresso rumo à equidade, maior senso de pertencimento e uma conexão mais profunda com um propósito.

A provocação central é transformar a visão que as empresas têm das pessoas colaboradoras: deixar de tratá-las como recursos que devem ser consumidos até o esgotamento, para tratá-las como ativos que precisam ser regenerados e valorizados ao longo do tempo.

Isso envolve decisões sobre a arquitetura do trabalho, como:

  • combate à cultura da urgência: diferenciar o que é realmente urgente do que é apenas “ansiedade organizacional”;
  • adoção real do assincronismo: permitir que o trabalho profundo (deep work) aconteça sem a interrupção constante de notificações, respeitando os cronotipos individuais de produtividade das pessoas colaboradoras;
  • redefinição de cargas horárias: avaliar a produtividade por entrega de valor, e não por horas conectadas.

Leia também: Liderança e Saúde Mental — como equilibrar resultados e bem-estar?

O elo com a segurança psicológica e o combate ao FOBO

A sustentabilidade humana também está intrinsecamente ligada à segurança psicológica. Como discutimos anteriormente em outro artigo, o FOBO (medo de se tornar obsoleto/a) é um dos principais geradores de ansiedade silenciosa hoje.

Portanto, investir em sustentabilidade humana significa também investir na empregabilidade do time. Quando as empresas investem na capacitação do seu time, estão atuando diretamente na redução desse estresse, utilizando o aprendizado contínuo como um “antídoto” contra a ansiedade, devolvendo à pessoa colaboradora a confiança em seu próprio futuro.

Leia também: Work-life balance — como promover equilíbrio real entre vida pessoal e trabalho

O RH como designer do futuro

Ao olharmos para o cenário atual e para as tendências em RH para 2026, fica claro que o papel do RH ultrapassou definitivamente as tarefas administrativas. O setor não é mais o “departamento pessoal” que apenas reage às demandas do negócio; ele é agora um setor estratégico responsável por desenhar o próprio futuro do trabalho.

O grande desafio (e a grande oportunidade) dos próximos anos reside na capacidade de equilibrar uma dualidade essencial. Assim, conforme as tendências para RH apontam, as lideranças do futuro precisam ser, obrigatoriamente, tech-savvy (fluente em tecnologia), dominando a IA agêntica e a análise de dados para ganhar eficiência.

Mas, simultaneamente, também precisa ser human-centric (centrado no humano), para garantir que a tecnologia sirva para potencializar a criatividade, a conexão e o bem-estar das pessoas, e não para substituí-las.

As organizações que tentarem implementar novas tecnologias sem renovar sua cultura e sem investir nas habilidades de seus times vão encontrar resistência e estagnação. Já aquelas que entenderem que a inovação é feita por pessoas e para pessoas irão liderar o mercado.

Não espere o futuro chegar para reagir. A lacuna de habilidades entre o que sua empresa tem hoje e o que ela precisará em 2026 deve começar a ser preenchida agora. Prepare sua organização para ser baseada nas habilidades do futuro e especialista em IA.

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Leia também: O futuro da liderança — tendências para 2026

Athena Bastos
Athena Bastos

Coordenadora de Comunicação da Alura + FIAP Para Empresas. Bacharela e Mestra em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Pós-graduanda em Digital Data Marketing pela FIAP. Escreve para blogs desde 2008 e atua com marketing digital desde 2018.